26 de maio de 2008

Breve histórico de Salinas


Por Roberto Carlos Morais Santiago

Atualmente, dos oitenta e seis municípios que integram a mesorregião Norte de Minas Gerais, somente sete conseguiram a emancipação política e administrativa no período do Segundo Império, no século XIX: Rio Pardo de Minas (1833), Montes Claros (1857), Grão Mogol (1858), Januária (1860), Salinas (1883), São Francisco (1877) e Monte Azul (1887).

A história primitiva de Santo Antônio de Salinas teve início no final século XVII, quando por volta de 1698, o bandeirante Antônio Luiz dos Passos, oriundo da Bahia, chegou à região de Rio Pardo de Minas para estabelecer fazendas de gado. Ao percorrer a região mais ao sul, habitada pelos índios Tapuias, descobriu rio pouco caudaloso (atual rio Salinas) e ali encontrou ricas jazidas de salgema – sal da terra – produto muito caro na época devido à escassez, que favoreceu o povoamento. Logo se formou o arraial de Santo Antônio de Salinas.

Naquele período, todo o Norte de Minas e Nordeste (Jequitinhonha e Mucuri) de Minas Gerais faziam parte do território da Capitania da Bahia, integrando a Comarca de Jacobina. Porém, na década de 1750, com a descoberta de diamantes na região do Arraial do Tejuco (atual Diamantina), as duas mesorregiões foram incorporadas à Capitania de Minas Gerais, integrando a Comarca de Serro Frio, conforme Resolução do Conselho Ultramarino de 13 de maio de 1757, com o intuito de controlar e fiscalizar a extração de ouro na região.


O arraial de Santo Antônio de Salinas era parte integrante do território do município de Minas Novas que pertencia à Comarca de Serro Frio. Em 1833, com a criação do município de Rio Pardo de Minas, o arraial foi incorporado ao território do novo município na condição de distrito. Em 1855, o distrito de Salinas ganha o status de freguesia. No dia 18/12/1880, é sancionada a Lei Provincial nº. 2.725, pelo vice-presidente da Província de Minas Gerais, Cônego Joaquim José de Sant'anna, que cria o município de Santo Antôno de Salinas. A mesma lei eleva o arraial a categoria de vila.

Em 1887, no dia 4 de outubro, a vila de Santo Antônio de Salinas é elevada a categoria de cidade por meio da Lei Provincial nº. 3.485. Aqui se comete um erro histórico. Muitos acham que a data de aniversário do município é 04/10/1887. Na verdade, a data correta é 18/12/1880 (data em que foi sancionada a Lei Provincial nº. 2.725, que criou o município de Santo Antônio de Salinas (a Lei nº. 3.485, de 04/10/1887, apenas elevou o status de vila para cidade). Se for considerado o período anterior a 1880 (data de criação do município) até o ano de 1833, quando passou de arraial a distrito de Rio Pardo de Minas, a história de Salinas alcança mais de 170 anos. É um equívoco achar que a história de um município somente se inicia quando é criado por uma determinada lei, muito pelo contrário, a história se inicia muito antes. A emancipação é somente uma etapa no processo histórico de desenvolvimento social, cultural, político e econômico de uma região.

Com a criação em 1880, o território do novo município passa a ser composto pelos distritos de Santo Antônio de Salinas (sede) e Água Vermelha (emancipado em 1962).

Em 1892, foi instalada a Comarca de Santo Antônio de Salinas, quando o Poder Judiciário de Minas Gerais decide estender os braços da lei para a região. O Dr. Francisco de Assis Freitas foi o primeiro Juiz de Direito da Comarca e o Tenente Coronel Rebeldino Pinto Coelho o seu primeiro Promotor de Justiça.

Em 1923, por meio da Lei Estadual nº. 843, o nome do município foi alterado de Santo Antônio de Salinas para SALINAS (nome atual). A mesma lei, ainda, incorporou ao território de Salinas os distritos de Amparo do Sítio (Rubelita), Santa Cruz de Salinas e Taiobeiras, além de Águas Vermelhas que desde 1880 já era distrito do município.

Recentemente, em 1995, os povoados de Fruta de Leite e Novorizonte, além do distrito de Santa Cruz de Salinas se emanciparam de Salinas (Lei Estadual nº. 12.030, de 21/12/1995). Com isso, o atual território do município passou a ser constituído de três distritos: Salinas (sede), Ferreirópolis e Nova Matrona. Possui área remanescente de 1.891 km² e população de 37.373 pessoas (IBGE, 2007). Integra a bacia hidrográfica do rio Jequitinhonha um dos principais rios de Minas Gerais.

Historicamente, Salinas sempre teve vocação para o progresso em face do dinamismo da sua economia e do seu povo, tradicionalmente empreendedor. Há mais de um século, desde os tempos do Império, o município exerce liderança política e econômica em toda a região do Alto Rio Pardo (microrregião de Salinas) que possui atualmente 17 municípios e ocupa área de 17,1 mil quilômetros quadrados e um contingente populacional de cerca de duzentas mil pessoas (IBGE, 2007).

De Salinas surgiram muitos personagens que enalteceram a história do município tanto no aspecto econômico como político. Pode-se citar Darcy Freire, Cel. Bernadino Costa, Cel. Idalino Ribeiro, Geraldo Paulino Santana, Péricles Ferreira dos Anjos, Anísio Santiago, dentre outros, que deram grande contribuição para o desenvolvimento da região.

Darcy Freire, engenheiro formado pela Escola de Minas, em Ouro Preto, foi político, fazendeiro e um dos maiores expoentes da literatura de Salinas. Exerceu influência em gerações de escritores salinenses.

O Cel. Bernadino Costa (Bernadino Ferreira Costa) foi um respeitável fazendeiro. Teve grande paixão pela política e era chefe do partido Republicano no município nas décadas de 1930-40. Trocava correspondência com o presidente da República, Artur Bernardes, e nutria forte oposição à política local do situacionista Cel. Idalino Ribeiro.

O Cel. Idalino Ribeiro dominou com mão de ferro a política de Salinas por muitos anos até meados da década de 1950. Foi um dos mais expoentes políticos do Norte de Minas na segunda metade do século XX (época dos coroneis que dominavam a política local com mão de ferro).

Em 1958, aos vinte e um anos, o jovem Geraldo Paulino Santana, ao se eleger prefeito de Salinas, encerrava o ciclo de dominação política do Cel. Idalino Ribeiro. Iniciava-se, então, meteórica carreira política de um dos mais importantes e influentes políticos da história de Minas Gerais. Teve participação decisiva em diversos governos de Minas Gerais sempre ocupando destaque no meio político. É tido como um dos mais importantes políticos de Minas Gerais nos últimos 50 anos.

Também é de Salinas o produtor da lendária e emblemática cachaça Havana, Anísio Santiago (1912-2002). A famosa Havana teve participação histórica no processo de transformação de Salinas na principal região produtora da cachaça artesanal de todo o país. O produtor Anísio Santiago formou toda uma geração de produtores de cachaça de Salinas.

Atualmente, a produção anual de cachaça no município é de cerca de cinco milhões de litros de cachaça por ano sendo comercializada sob mais de 50 marcas em todo o país e no exterior. A Associação de Produtores Artesanais de Cachaça Artesanal de Salinas (Apacs), que representa os produtores do município, organiza em parceria com a Prefeitura Municipal, desde 2002, o Festival Mundial da Cachaça, evento que faz sucesso nacional e vem atraindo turistas de todo o país e do exterior ávidos por conhecer a famosa cachaça produzida no município.

Dentre as dezenas de marcas de cachaça produzidas no município as mais tradicionais são: Asa Branca, Beija-Flor, Boazinha, Canarinha, Cubana, Erva Doce, Indaiazinha, Lua Cheia, Piragibana, Preciosa, Sabor de Minas, Salineira, Seleta, Terra de Ouro e a emblemática e lendária Anísio Santiago - Havana, marca símbolo da região e reconhecida Patrimônio Cultural Imaterial de Salinas por meio do Decreto Municipal nº. 3.728/2006, na gestão do prefeito José Antônio Prates, fato inédito no país no segmento de bebidas. Também é de Salinas o maior produtor mineiro de cachaça artesanal em volume de produção que é comercializada sob as marcas Boazinha e Seleta, do empresário Antônio Eustáquio Rodrigues, um dos expoentes empresários de Salinas da atualidade.

A cachaça de Salinas, atualmente, é a segunda atividade econômica do município com participação de 33%, em média. Em 2006, foi responsável por 46,4% da arrecadação de ICMS sobre a produção da bebida em todo o território mineiro, demonstrando a força da atividade econômica. Definitivamente, a cadeia produtiva no município encontra-se consolidada. O Governo de Minas, em novembro de 2007, reconhecendo a importância de Salinas no processo de produção de cachaça artesanal de qualidade, em parceria com a Prefeitura local, resolveu criar o Museu da Cachaça de Salinas. O museu vem ratificar a projeção do município no cenário da produção de cachaça.

Outra importante atividade econômica é o comércio que participa com 50%, em média, na economia do município. São centenas de pontos comerciais que demonstram todo o empreendedorismo do salinense que está sempre em busca do progresso e desenvolvimento pessoal e da economia do seu município. Atualmente, Salinas figura entre as dez maiores economias do Norte de Minas, levando-se em consideração a sua contribuição na arrecadação de ICMS em toda a mesorregião norte-mineira. O ICMS, imposto de competência estadual, é um excelente indicador sobre o perfil econômico de municípios e regiões.

No plano educacional, estão sendo instalados vários cursos de nível superior na cidade propiciando evolução cultural e educacional do seu povo. Recentemente, o Governo Federal autorizou a implantação do inédito curso superior em produção de cachaça na Escola Agrotécnica Federal de Salinas.

No plano literário, Salinas gerou poetas e escritores expressivos como Abdênago Lisboa, Juventino Nunes, Darcy Freire, Milton Santiago, José Antônio Prates, Rafael Daconti, Aníbal Freire, Iara Tribuzi, Narciso Durães, Maria Helena Costa, Lena Guimarães, Carlita Guimarães, Argeu Guimarães, João Costa, Aníbal Freite, Danilo Borges, Maria Elza Sarmento (Sula), Nádia Maria Cardoso Sarmento, Tiana Rodrigues, Valdiney Barbosa, dentre outros.

A identidade de um povo está intimamente relacionada com sua história, seus costumes e sua cultura. Historicamente, o povo de Salinas forjou um modo de ser e viver. Nos tempos atuais de globalização soube se firmar no mercado brasileiro produzindo bebida que faz parte da história e cultura brasileira: a cachaça.