25 de maio de 2011

Arlindo Santiago, 102 anos de vida!

Arlindo Santiago.
Por Roberto Carlos Morais Santiago

            Existem pessoas que nascem para viver muito. Parecem que são eternas. O tempo passa e teimam em seguirem vivendo até quando Deus permitir. O meu tio-avô  Arlindo Santiago é uma delas. Com 102 anos de vida, nasceu numa terça-feira de 25 de março de 1909, na fazenda Bonfim, zona rural de Salinas, próximo ao povoado de Lagoinha. 
            É filho de José Santiago (1873-1944) e Virgínia Santiago (1882-1965), patriarcas da família Santiago em Salinas. É irmão do meu avô Anísio Santiago (1912-2002), o produtor da famosa cachaça Havana. De uma família de doze irmãos, vivos somente ele e sua irmã Osvaldina Santiago de Abreu, 94 anos, que mora em uma pequena cidade no interior da Flórida, Estados Unidos.
            Tio Arlindo ainda mora na fazenda Bonfim, atualmente de sua propriedade, que foi adquirida pelo seu pai em 1903, ou seja 108 anos atrás. Outro dia fiz uma visita e todo alegre esticou uma prosa. Foi logo perguntando:
- Carlos, você fala inglês?
- Não tio, não falo! - Respondi.
- Sinto falta de alguém para praticar a língua inglesa. As minhas vistas estão cansadas para ler.  O jeito é praticar falando mesmo. Mesmo assim tá difícil - Fala resignado. 
Puxei assunto para os seus livros. Possui muitos guardados, em sua maioria adquiridos pelo seu pai, meu bisavô. Pergunto:
- Tio, soube que possui muitos livros. Poderia me mostrar?
- Uai Carlos, não sabia que gostava de livros antigos. Vem cá e lhe mostro - Responde levantando. 
Com dificuldade caminha lentamente para um quarto ao lado da sala. O acompanho com a curiosidade de um adolescente.  Ao adentrar me espanto com grande quantidade de livros antigos, alguns da época do império. Estavam amontoados em caixas e uns poucos jogados no chão. O primeiro livro que peguei foi um sobre o Código Civil Brasileiro de 1916 em bom estado de conservação. A quantidade de livros impressiona. São livros de literatura francesa, inglesa, medicina, direito, agrimensura, enfim, livros de todos os tipos.
Proseando, tio Arlindo diz que a maioria foi adquirida pelo seu pai que sempre gostou de livros.
- O meu pai era pessoa culta para os padrões da época. Nascido em Diamantina estudou medicina por dois anos em Salvador, na Bahia. - Fala olhando fixamente para algum ponto tentando relembrar fatos tão distantes.
- Ele desistiu do curso por causa da guerra de Canudos. Por isso retornou para Minas, na cidade de Medina, onde ficou dois anos e casou-se. Em 1898 mudou-se em definitivo para Salinas - Confidencia olhando fixamente para mim.
Tio Arlindo sempre morou na fazenda onde nasceu. Estudou no povoado de Lagoinha. Na década de 1920 fez curso de madureza (equivalente ao ginasial) na cidade de Araçuaí, distante mais de cem quilômetros de Salinas. Naquele tempo não existia automóvel. O percurso era feito em montaria de cavalo com amigos que também estudavam lá. Segundo ele a vida naquela época era difícil para todos, mas eram felizes. Por muitos anos foi professor e dono de um armazém no povoado de Lagoinha. Atualmente está aposentado. Casou duas vezes e teve mais de dez filhos.
Percebe-se em suas conversas que é de outro mundo, de outra época. Fala com riqueza de detalhes como foi o povoamento da região de Salinas no século XIX e início do século XX, dos donos das primeiras fazendas, dos migrantes da Bahia que sempre aportavam na região em busca de um bom lugar para viver, longe da seca do sertão baiano.
A visita ao tio Arlindo foi muito proveitosa. Fui presenteado com alguns livros antigos que guardo com carinho em minha residência. Não dou nem empresto a ninguém. Afinal, fui agraciado com um Código Civil de 1918, um dicionário de língua alemã do século XIX, um livro de agrimensura de 1907, um livro de gramática francesa de 1952, um livro de literatura francesa de 1899 intitulado “Chateabriand”, um livro de discursos de 1893 e um dicionário de português-francês de 1869. Esse dicionário é interessante, pois foi comprado pelo meu bisavô José Santiago por 19.200 réis. Aliás, todos os livros foram comprador pelo meu bisavô, exceto o de gramática francesa de 1952, este adquirido pelo próprio tio Arlindo.
Nem precisa dizer que os livros são interessantíssimos. Mas, tem mais. Na maioria dos livros consta inúmeras anotações, recados, cartões, cartas e algumas notas antigas de dinheiro. Foi numa dessas anotações que descobri a data de nascimento e casamento do meu bisavô José Santiago. Uma informação valiosa contida em livros que hoje são raros pela sua antiguidade.
Ah, tio Arlindo. Os seus 102 anos de vida representam um estilo de vida rural que vem sendo apagado pela modernidade que nos escraviza no tempo e no espaço. Feliz é o senhor que vive serenamente, que mineiramente aprecia o cotidiano, que observa a vida passar diante de seu olhar mais que centenário.
Tio Arlindo, diante de tudo isso somente posso agradecer pela bela pessoa que é e lhe desejar ainda muitos anos de vida.

17 de maio de 2011

Rótulos antigos de cachaça de Salinas

Rótulos de cachaça, expressão da cultura da região de Salinas.
Salinas possui atualmente mais de 60 marcas de cachaça registradas no município e outras dezenas em municípios vizinhos. O atual status da cachaça de Salinas no mercado brasileiro deve-se às marcas pioneiras como Havana, Piragibana, Indaiazinha, Asa Branca, Canarinha, dentre outras. Poucas ainda estão no mercado e se tornaram marcas ícones da legítima cachaça de Salinas. A mais emblemática marca que permanece fiel às suas origens é a famosa Havana, produzida desde 1943, reconhecida Patrimônio Cultural Imaterial de Salinas em 2006, fato inédito no Brasil. Os rótulos antigos acima expressam a mais importante cultura da região de Salinas que lhe tem dado projeção nacional e internacional: a cachaça.

13 de maio de 2011

Lei Áurea faz 123 anos

Lei Imperial nº. 3.353, de 13/05/1888,
assinada por Isabel, princesa do Brasil.
Sabe-se que havia muitos escravos no município de Salinas e região até 1888, final do século XIX. Com suor, sangue e lágrimas os escravos de Salinas deram sua contribuição no processo de formação territorial e do povoamento da região. A contribuição dos negros em Salinas é visível, basta observar as pessoas, os costumes, a cultura, a miscigenação.

Pouca gente sabe, mas a lei que libertou formalmente os escravos faz, hoje, 123 anos. Trata-se da  Lei Áurea (Lei Imperial n.º 3.353), sancionada em 13 de maio de 1888, que extinguiu a escravidão no Brasil. Foi precedida pela lei n.º 2.040 (Lei do Ventre Livre), de 28 de setembro de 1871, que libertou todas as crianças nascidas de pais escravos, e pela lei n.º 3.270 (Lei Saraiva-Cotejipe), de 28 de setembro de 1885, que regulava "a extinção gradual do elemento servil".

Foi assinada por Dona Isabel, princesa imperial do Brasil, e pelo ministro da Agricultura da época, conselheiro Rodrigo Augusto da Silva. O Conselheiro Rodrigo Silva fazia parte do Gabinete de Ministros presidido por João Alfredo Correia de Oliveira, do Partido Conservador e chamado de "Gabinete de 10 de março". Dona Isabel sancionou a Lei Áurea, na sua terceira e última regência, estando o Imperador D. Pedro II do Brasil em viagem ao exterior.

O projeto de lei que extinguia a escravidão no Brasil foi apresentado à Câmara Geral, atual Câmara do Deputados, pelo ministro Rodrigo Augusto da Silva, no dia 8 de Maio de 1888. Foi votado e aprovado nos dias 9 e 10 de maio de 1888, na Câmara Geral.[2]

A Lei Áurea foi apresentada formalmente ao Senado Imperial pelo ministro Rodrigo A. da Silva no dia 11 de Maio. Foi debatida nas sessões dos dias 11, 12 e 13 de maio. Foi votada e aprovada, em primeira votação no dia 12 de maio. Foi votada e aprovada em definitivo, um pouco antes das treze horas, no dia 13 de maio de 1888, e, no mesmo dia, levado à sanção da Princesa Regente.

Foi assinada no Paço Imperial por Dona Isabel e pelo ministro Rodrigo Augusto da Silva às três horas da tarde do dia 13 de maio de 1888.

O processo de abolição da escravatura no Brasil foi gradual e começou com a Lei Eusébio de Queirós de 1850, seguida pela Lei do Ventre Livre de 1871, a Lei dos Sexagenários de 1885 e finalizada pela Lei Áurea em 1888.

O Brasil foi o último país independente do continente americano a abolir completamente a escravatura. O último país do mundo a abolir a escravidão foi a Mauritânia, somente em 9 de novembro de 1981, pelo decreto n.º 81.234.

7 de maio de 2011

Mercado velho de Salinas

Mercado velho de Salinas em 1978.
(Foto: Abdênago Lisboa)


O Mercado velho de Salinas foi construído e inaugurado em 1910 no mandato de Virgílio Avelino Grão Mogol, então presidente da Câmara de Vereadores e Agente Executivo (cargo equivalente ao de prefeito atual). Aos sábados, a população do município e região se aglomerava para comercializar produtos da terra. Não existe mais. No local foi construída uma praça que não tem o glamour  do antigo mercado. A imagem acima é apenas uma lembrança do passado.